domingo, 15 de maio de 2016

Kinshasa: a cidade que não dorme




Kinshasa: a cidade que não dorme

Quem viaja, pela primeira vez, para Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, fica com a impressão de que a cidade nunca mais acaba, tal é a sua grande extensão territorial.
A capital da República Democrática do Congo é a terceira maior cidade de África, atrás somente do Cairo (Egipto) e Lagos (Nigéria). É ainda a segunda maior cidade francófona do Mundo, estando atrás de Paris, capital francesa. Quem conhece os hábitos e costumes de uma larga franja de congoleses que vivem em Angola não fica surpreso quando vê, por exemplo, em Kinshasa, negócios em qualquer esquina, até no período nocturno.
Na verdade, posso até ter exagerado pelo título dado a esta peça, resultante da viagem que fiz à República Democrática do Congo em 2009, mas tem algum pingo de verdade, porque uma boa parte de Kinshasa não dorme mesmo.
E prova disso são as localidades conhecidas por Matonguê, Bandal e Bon Marchê, onde o negócio é feito a um ritmo acelerado, sobretudo aos fins-de-semana.
Ter ficado durante dez dias em Kinshasa foi suficiente para ver uma cidade limpa, sobretudo no seu casco urbano, onde existem áreas comerciais, como a Avenida do Comércio, e bairros nobres, alguns dos quais com moradias de luxo, cuja qualidade construtiva é superior à de algumas vivendas localizadas no Alvalade, Bairro Azul e no Miramar, província de Luanda.
Com cerca de dez milhões de habitantes, Kinshasa é tanto cidade quanto província, sendo uma das onze províncias da República Democrática do Congo.
A cidade de Kinshasa está dividida em 24 comunas e o seu centro comercial e administrativo é a comuna de La Gombê, onde estão algumas das melhores cadeias hoteleiras existentes na República Democrática do Congo e casas nobres.
A criminalidade em Kinshasa anda a passos de camaleão. O crime registado com mais frequência é o de burla. O número de assassinatos não assusta o turista que queira conhecer a vida nocturna da agitada cidade.
Não é como Luanda, onde o sentimento de insegurança é uma realidade em algumas áreas pela natureza dos crimes, alguns até violentos, embora se reconheça um grande esforço e empenho da Polícia Nacional no combate aos grupos de marginais.
Conheci em Kinshasa um taxista, antigo morador do bairro Palanca, que decidiu regressar ao seu país por ter visto a sua casa ser assaltada quatro vezes, na última das quais perdeu uma filha, assassinada por um grupo de jovens meliantes.
E outra particularidade de Kinshasa tem a ver com o facto de não haver presença física significativa de efectivos da Polícia de Ordem Pública nas ruas.
A vida é difícil na República Democrática do Congo, onde, pelo que pude perceber na sua capital, a maioria da população deve viver da economia informal, porque os salários, sobretudo os praticados na Função Pública, são muito baixos. Um médico, por exemplo, chega a ganhar, por mês, o equivalente a 200 dólares, enquanto um soldado leva para a casa em franco congolês o equivalente a 20 dólares.
A prostituição é o meio de sobrevivência de muitas mulheres congolesas, algumas das quais entraram para a profissão mais antiga do Mundo com o consentimento dos maridos, havendo outras que nunca revelaram aos seus companheiros a sua verdadeira actividade profissional.
As prostitutas em Kinshasa estão à mão de semear, porque podem ser localizadas em tudo quanto é canto, incluindo em hotéis, lugares a que têm acesso por contarem sempre com a cumplicidade de funcionários, incluindo seguranças. Algumas das prostitutas de luxo vivem em países europeus, de onde regularmente saem para a República  Democrática do Congo por serem sempre requisitadas como "garotas de programa" por homens abastados.
    

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