Kinshasa:
a cidade que não dorme
Quem viaja, pela primeira
vez, para Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, fica com a
impressão de que a cidade nunca mais acaba, tal é a sua grande extensão
territorial.
A capital da República
Democrática do Congo é a terceira maior cidade de África, atrás somente do
Cairo (Egipto) e Lagos (Nigéria). É ainda a segunda maior cidade francófona do
Mundo, estando atrás de Paris, capital francesa. Quem conhece os hábitos e
costumes de uma larga franja de congoleses que vivem em Angola não fica
surpreso quando vê, por exemplo, em Kinshasa, negócios em qualquer esquina, até
no período nocturno.
Na verdade, posso até ter
exagerado pelo título dado a esta peça, resultante da viagem que fiz à
República Democrática do Congo em 2009, mas tem algum pingo de verdade, porque
uma boa parte de Kinshasa não dorme mesmo.
E prova disso são as
localidades conhecidas por Matonguê, Bandal e Bon Marchê, onde o negócio é
feito a um ritmo acelerado, sobretudo aos fins-de-semana.
Ter ficado durante dez
dias em Kinshasa foi suficiente para ver uma cidade limpa, sobretudo no seu
casco urbano, onde existem áreas comerciais, como a Avenida do Comércio, e
bairros nobres, alguns dos quais com moradias de luxo, cuja qualidade
construtiva é superior à de algumas vivendas localizadas no Alvalade, Bairro
Azul e no Miramar, província de Luanda.
Com cerca de dez milhões
de habitantes, Kinshasa é tanto cidade quanto província, sendo uma das onze
províncias da República Democrática do Congo.
A cidade de Kinshasa está
dividida em 24 comunas e o seu centro comercial e administrativo é a comuna de
La Gombê, onde estão algumas das melhores cadeias hoteleiras existentes na
República Democrática do Congo e casas nobres.
A criminalidade em
Kinshasa anda a passos de camaleão. O crime registado com mais frequência é o
de burla. O número de assassinatos não assusta o turista que queira conhecer a
vida nocturna da agitada cidade.
Não é como Luanda, onde o
sentimento de insegurança é uma realidade em algumas áreas pela natureza dos
crimes, alguns até violentos, embora se reconheça um grande esforço e empenho
da Polícia Nacional no combate aos grupos de marginais.
Conheci em Kinshasa um
taxista, antigo morador do bairro Palanca, que decidiu regressar ao seu país
por ter visto a sua casa ser assaltada quatro vezes, na última das quais perdeu
uma filha, assassinada por um grupo de jovens meliantes.
E outra particularidade de
Kinshasa tem a ver com o facto de não haver presença física significativa de
efectivos da Polícia de Ordem Pública nas ruas.
A vida é difícil na República
Democrática do Congo, onde, pelo que pude perceber na sua capital, a maioria da
população deve viver da economia informal, porque os salários, sobretudo os
praticados na Função Pública, são muito baixos. Um médico, por exemplo, chega a
ganhar, por mês, o equivalente a 200 dólares, enquanto um soldado leva para a casa
em franco congolês o equivalente a 20 dólares.
A prostituição é o meio de
sobrevivência de muitas mulheres congolesas, algumas das quais entraram para a
profissão mais antiga do Mundo com o consentimento dos maridos, havendo outras
que nunca revelaram aos seus companheiros a sua verdadeira actividade
profissional.
As prostitutas em Kinshasa
estão à mão de semear, porque podem ser localizadas em tudo quanto é canto, incluindo
em hotéis, lugares a que têm acesso por contarem sempre com a cumplicidade de
funcionários, incluindo seguranças. Algumas das prostitutas de luxo vivem em
países europeus, de onde regularmente saem para a República Democrática do Congo por serem sempre
requisitadas como "garotas de programa" por homens abastados.
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